sábado, 19 de setembro de 2009

Aquela chiveta, aquele canalha!!!!!!





Aquela chiveta

Hoje, enquanto eu trabalhava, apareceu na janela um beija-flor. O que essa porra de beija-flor está fazendo aqui? Meus olhos de homem urbano não captaram aquela figura insignificante como um beija-flor, mas como um pássaro desprezível, irrequieto, com insuportável bater de asas. Detesto aquele pássaro! Lembrei-me de uma antiga amiga, a Fezinha. Na época, estudante de sociologia. Muito gostosinha. Uma filhinha de papai, preocupada com causas nobres. Reflorestamentos, distribuição de renda e outras babaquices chatas pra caralho. Inteligente, falava três ou quatro idiomas. Certa vez ela me disse que existe uma comunidade primitiva – na África, Oceania ou sei lá onde – que valora a alma de um homem por sua capacidade de descrever com palavras belas o vôo de um beija-flor. Viadice! Quem não enxerga beleza no pássaro é expulso da comunidade, tendo de se isolar nas montanhas. Eu lá já teria virado ermitão. Com os olhos de brilho malicioso, a boca sorrindo pura sacanagem, ela falava: isso quer dizer que você é um puta de um canalha sem escrúpulos. Como era gostosa! Queria foder aquela beldade. Trancá-la na biblioteca e passar a madrugada lá, só eu e ela. Daí eu ia pegar todos aqueles livros de marxismos sacais, espalharia-os pelo chão e deitaria-a nua sobre eles. Metendo na sua carne quente, encharcada, eu gritaria bruto: o que é melhor? Do que você gosta mais? Desses comunistas de merda ou do meu pau duro dentro de você? Duvido que ela fosse escolher a barba sebenta do Marx. E ela sussurrando em meu ouvido, mordendo o lóbulo: seu pau, seu pau. Apenas uma vez me aventurei. Fazia um calor dos bravos, daqueles de dar tesão até na alma. Ela vestia um shortinho bem curto. Não agüentei. Tasquei-lhe a mão na bunda. Durinha, bem torneada! Tomei gelo de uma semana. Depois disso, apelei pro meu colega Flávio, vizinho dela na república estudantil. Ele foi até o varal e furtou uma calcinha dela pra mim. Rosinha, com coraçõezinhos vermelhos. Uma delícia. Fiquei um mês inteiro no banheiro me punhetando com a calcinha dela no nariz, na esperança de arrancar um resquício de cheiro saído de suas entranhas. Ela só atiçava, na hora do vamos ver, era fiel. Queria saber mesmo era do Wagner, o barbudão, um babaca cheio de ideologismos. Que saudade daquela chiveta! Ouvi dizer que foi pra Inglaterra, trabalhar no Greenpeace. Deve de estar protegendo baleias, golfinhos. Cacete! Taí outro bicho por quem alimento um ódio mortal: golfinho. Bicho besta, metido a inteligente. Pulinhos, firulas, risadinhas. Toda sorte de palhaçada por uma migalha de agrado. Parece uma prostituta! É isso que o golfinho é: a puta dos mares. Embora não tenha dado pra mim, acho que amei aquela chiveta.

Aquele canalha
L’écologie est la médicine du monde. Com essa frase e um belo par de pernas à mostra conquistei meu cargo no escritório parisiense do Greenpeace. Defesa da fauna e flora marinhas. São assombrosos os crimes ambientais cometidos pela praga da proliferação humana. Praga da proliferação humana... Ele achava graça quando eu falava assim. O Marcos. Eu, estudante de sociologia. Ele, de administração. Que homem! Conquistava todas na faculdade. Inescrupuloso, não há dúvidas. Machista, antiecológico. Mas como era atraente. Era um homem ossudo, encorpado. O sorriso másculo, acanalhado, deixava à mostra os dentes grandes, claros. Ah, como me umedecia aquele sorrir. A verve do olhar impaciente, sempre à procura do próximo flerte. O perfume ainda me inebria. Um tanto selvagem. Assim era ele: um devorador selvagem. Tanto que abominava os animaizinhos frágeis, delicados, como golfinhos, beija-flores, pandas, coalas. Marcos admirava a brutalidade da natureza. Passava horas assistindo a documentários sobre animais ferozes: leões, tigres, jacarés. Hipnotizava-o o abrir das mandíbulas fatais. Tinha também incontrolável fascínio por vulcões. Dizia que os vulcões e suas erupções de fogo são a mais perfeita metáfora da mulher. Eu quis dar pra ele. Muitas vezes quis me entregar à sua rigidez máscula, montar seu falo, domar aquela misteriosa impetuosidade que brotava nos seus olhos. Mas relutei. Não nasci mulher de canalha. Além do mais, tinha o Wagner, meu ex. Um amor. Intelectual, pensador. Péssimo na cama, o pobrezinho. Só faltava pedir licença para abrir minhas pernas. Mas um doce. Meigo. Já o Marcos, ah... Como será o êxtase daquele homem? Repleto de urros, apertos? Sadicamente, eu o provocava. Num dia quente de verão, desses de dar tesão até na alma, coloquei meu shorts mais apertado e indiscreto. Ele encheu a mão em minhas nádegas. Como foi bom sentir sua mão pesada, ossuda, ávida. Estremeci, toda arrepios. Depois hesitei. Por uma semana desejei arrastá-lo para minha cama. Mas transpareci indiferença. Depois veio o Flávio, meu vizinho: olha, não gosto de fazer nada às escondidas. O Marcos me pediu para roubar uma calcinha sua do varal. Eu entreguei de bom grado. A mais bonita e sensual de todas. Porém, não sem antes lavá-la, esfregá-la, até extrair todo o odor. Não queria escravizá-lo com meu aroma mais íntimo. Marcos, delicioso cafajeste... O que terá sido dele? Disseram-me que se tornou um bem sucedido empresário. Acho que desejei aquele canalha.

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Extraído do blog Palavrórios - link


Pra ver como é a vida... um calar Eterno...

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