sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Grande Guerra

Andou errante, procurando um sentido para "ser".
Andou cambaleante, procurando um apoio onde se "recostar". E só encontrou pó, no verão, e lama no inverno como companhia.
Foram anos difíceis durante a Guerra, e ele sentia frio de vez em quando. Um frio recortante, um frio inexplicável em plena primavera.
Era um maldito sobrevivente. Uma peste que deveria ser aniquilada á todo custo.
Diferente, maltrapilho, barbudo e fora do eixo. Uma máquina que produzia horror. Uma máquina que produzia sensações diversas. Fedia muito, e a cera de ouvido escorria abundante pelos lados do rosto.
Cego, coxo e débil.
Mas ainda assim, melhor que qualquer um que eu conhecí. Sorriso sincero, mãos que tremiam descontroladamente. Um nervoso constante. A inquietude dos abandonados. Dos que vivem da compaixão humana.
Vinha sempre ás cinco em ponto. Conversávamos na quitanda até eu lhe oferecer janta e pinga.
Sua Guerra, não era a Guerra Civil e tampouco foi a Segunda Grande Guerra Mundial.
Era, pois, a Guerra de sua própria vida. Estava velho e só.
Cinco filhos, dezesseis netos... família grande, porém, longe. "Ser velho neste país, moço, é vergonhoso".
Cuidou de filhos e netos. E quando não serviu mais para "nada", foi jogado á sorte.
É que a esposa do filho mais velho não gostava do pobre homem.
Sentir que nossa velhice está solitária me envergonha.
Devia envergonhar você também.

Nenhum comentário: