sábado, 12 de dezembro de 2009

Clarice




Andar no meio dos trilhos e esperar o trem.
Eram assim os dias de Clarice. Uma Eterna espera.
Ele nunca vinha e seus olhos marejavam de desejo.
Um constante desejo.
Depois da morte do marido, masturbava-se, acarinhava-se e até transava com alguém nas noites em que o sangue ferve e a alma pede socorro.
Mas não conseguia amar outro homem senão aquele que se foi depois de um acidente automobilistico. Teve a cabeça esmagada, braços e pernas triturados.
Mas o trem nunca vinha.
Ela ia pra longe caminhando por cima dos trilhos, caindo no mato de vez em quando, fumando um cigarro ilícito, bebericando longas doses de vodka.
É que a vida da gente é uma eterna busca pelo próximo.
Sejam pais, irmãos, filhos, buscamos sempre um olhar. Um olhar de parceria. O olhar da compreensão!
Mas oque é nossa vida, senão um constante círculo vicioso de procurar o amor? Roupas, comportamentos e hábitos são mudados por esse outro alguém que se persegue.
E Clarice já tinha ultrapassado essa busca.
Sua busca teve êxito, e mesmo com defeitos, brigas, sangue derramado e muita perseverança no amor, ela tinha o seu olhar.
Que se foi. E que ainda poderia ser se seu intento obtesse sucesso.
Lá vem o trem.
Será que vai ser dessa vez? É se jogar nos trilhos e esperar.
A Clarice dos olhos negros e doentios.
A prostituta de um só.

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