Lembrei de vestir aquele pretinho de bolinhas brancas na noite de hoje. Estava tranquila até. Aquele sem rosto e sem personalidade que me tirava pra dançar. Noite gelada, bebida quente. Aquele rosto definitivamente não tem personalidade. E não entendeu quando disse que não sei dançar. Não entendeu que não era com o vazio que queria estar. Não era aquele rosto. E novamente, sem personalidade. Fui embora juntando as bolas que caiam no caminho. Algumas escaparam, é verdade, mas amanhã eu volto pra buscar. Correr...Remoer... Fiquei toda negra. Sentei na calçada como de costume pra pensar. Não era aquilo, não era aquele. Eu queria estar gerando e sendo gerada. Na verdade a noite era quente, e a gelada sou eu. Definitivamente. Quero um mundo de verdades. Quero um mundo só meu. E sem ter que cair na loucura para isso. Se bem que por estes dias, tudo é loucura. Não era com ele e nem com aquilo. A situação embaraçosa. O como dizer não. E como dói não ser lembrada. E como dói não ser tocada. E como dói doer. E como dói sorrir a pessoas sem nexo. Doer a vida, doer a morte. Doer a mente, doer a navalha. Sentir que a cada desilusão me vem mais um corte. Retalhos de um corpo magro e que sangra constantemente. Perpetuamente. Repugnantemente. E pensar que nesta noite, poderia ter sido o vermelho coberto de flores.
Desfiz a mala, abrí o verbo, joguei fora as lembranças. Como toda e qualquer pessoa sem noção, assistindo tv, ví uma frase muito interessante em uma propaganda de telefonia.
"É tempo de mente sem fronteiras"
Apaguei durante um bom tempo... mente sem fronteiras... Comecei a pensar seriamente sobre. Tudo e ao mesmo tempo Nada. De como nossa mente é manipulada, manipulável, não palpável, mas existente, dominante, vil até. Há muito entre o real e os sentidos. Entre o ser, estar e permanecer [verbos de sei lá oq]. Há tempos o Homem tomou consciência de sua existência e expandiu de forma interessante sua mente. Como se imagina o mundo e as pessoas. Uma existência mesquinha. De como se sabe do futuro, mesmo sendo ele de um segundo depois. O material e o imaterial. A semântica e significados, significantes, badulaques ou não. O infalível e o falo. Sexo e sua teoria. A teoria da história e suas invenções. Início e fim. Malditos documentos. Mentira de quem diz que falam por sí só. Documentos não falam. Apenas calam e apodrecem nos arquivos. Me responda: o tudo existe? o nada sub-existe? imundicie ou não, com suas criaturas, brejos e sentimentos que nos rodeiam, sentidos que chicoteiam, olhos e olhos sacolejantes. Informações demais é oq acho, sinto, vejo e odeio. Odeio gente com fronteiras. Odeio terminantemente gente com fronteiras. Alegria, alegria ... O que será...
Por isso desfiz as malas, as fitas, as molas que me prendiam. Joguei malabares, sentada, ali mesmo, no chão. Mente sem fronteiras... Ouví Chico e Caetano. Chorei ao ouvir o Teatro que sem querer é Mágico. Queria sapatinhos vermelhos, sair sapateando mundo afora... Esquecí... não aprendí a sapatear. Mas chutar eu sei.
Hoje é o dia Nacional da Poesia. A data foi escolhida por ser aniversário de Castro Alves. Célebre poeta dos escravos.
Quem nunca escreveu, ou tentou rabiscar uma poesia, bom sujeito não é, é ruim da cabeça, ou doente do pé...
Gosto de poetar, brincar, girar as palavras para que possam se encaixar corretamente. Viajar como quando fecho os olhos e giro o malabares. Sair um pouco dessa mesmice do dia-a-dia. Posso ir de um extremo a outro. Unir sentimentos. Sobriedade que falta. Habilidade de sonhar, e de ser sonhada. Subir e descer ladeiras, correr numa reta sem fim, chorar nos cantos escuros, sorrir pro vento... Sem lenço e sem documento... Olhar o penhasco e pular com vontade... e acordar na piscina que existe atrás da retina de todos nós.... Basta querer... Sentar no sereno, correr entre ratos, bater a cabeça contra o muro e perceber que era de algodão... E depois de tudo isso perceber que a vida era Severina. Que o mar de Fernando Pessoa secou; A taverna de Álvares de Azevedo era um manicômio; Que Camões não tinha cadencia nenhuma; E que tantos outros foram imcompreendidos por permanecerem na loucura serena da poesia. Erotismo e consternação. Bravuras e batalhas. A própria existência. A morte e a Vida. Severina. Os cordéis. Os menestréis... E os artistas de rua. A Comédia Del'Arte e os animadores de corte... Todos na sua eterna função. Ou disfunção, sabe-se lá. O fogo da paixão; O fim de cada uma delas, a marca profunda rastejante na alma. O fumo e o vinho barato; as prostitutas e as puritanas. Minha verdade. A sua verdade. Sonhar um mundo de jujubas, povoados por crianças. Girar numa cadeira até vomitar. Ficar sem comer, jejuar a vida. Ficar sem dormir, não perder os minutos. Seguir em frente e aceitar a razão são motivos óbvios pra continuar a produzir. Sangue de papel. Sabores resgatados, olhos dilatados... um velho comprimido, o velho sistema racial. Negar o esquecimento das coisas com a nostalgia de um ancião. Negar o fim. Negar sempre. A mesmice.
Somos todos poetas e poetisas.
Basta querer!
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Andei por sobre o vento querendo... Andei por sobre o vento remoendo... Andei e perdí o controle das pernas Cansadas, sentaram em uma esquina qualquer pra pensar... Metamorfosear a dor, o amor e o dissabor... Metamorfosear os sentimentos, a razão e a impotência. Sumí por dias e horas Esperei o relógio contar todos os tic tacs possíveis... Deixei de ser previsível, impassível! Vai, vai, vai, vai! Volta, volta, volta! Volta pra viver! Deixei o bom humor de lado, apanhei um cigarro e saí da melodia... Procura-se agora uma nova personagem Chega de vadiagem, viadagem e passividade. Não vai dar pra abraçar o mundo como seria o plano. Mas o mundo vai me abraçar, acarinhar se possível. Cordas bambas de uma vida. Cordas bambas de um sonho. Um relâmpago clareou ao longe. É hora de voltar.
Sempre tive perdas dolorosas. Mas essa foi a pior. Os olhos pedem pra ser mentira, a dor corporal parece não passar. A mente pediu pra ser ilusão. Mas não era. Se foi. O que era pra ser vida acabou num simples piscar de olhos. João disse que sou bailarina. Até queria ser, dançar, sair rodopiando por aí. Mas ele fala isso por culpa das saias longas e do olhar triste. Chorei dias e dias por perder a vida. Chorei dias e dias por perder o sonho. Chorei dias e dias por perder a sensibilidade de ser mãe. Chorei por chorar, isso é quase certeza. Mas oque crescia não era mentira. Era verdade. E a verdade dói. E eu continuo chorando. O dono de tudo isso não sei pra onde vai nem pra onde foi. Sumiu no ar como purpurina ao vento. Só sei que está longe e pedindo que a razão não o abandone. Desejo sorte a mim. Peço sorte. Frases mentirosas que fingem estar tudo bem quando na verdade não está. João gosta de bolinhos. De todos os tipos. Sempre faço aos montes, me afogo na cozinha metamorfoseando o trigo. Pedindo pra parar de doer. Sonhando com o dia que vou poder dar uma companhia a ele. Acho que serão só os bolinhos mesmo. As coisas não são como eu quero. E nem como ele pede. Seria meu. Por isso deu tudo errado. Vou ver os bolinhos, acho que queimaram.
Pixinguinha falou e disse quando cantou " Rosa". Um Feliz dia Internacional á todas as minhas amigas, blogueiras, mães, doidas, felizes, todas nós, mulheres!!!!!!!! Ainda há muita batalha pela frente, força e coragem temos de sobra! Tem um vídeo-homenagem e a letra da música. A canção é interpretada por minha "amiga de bar" hahahahahaha Marisa Monte.
***** Rosa - Pixinguinha
Tu és, divina e graciosa Estátua majestosa do amor Por Deus esculturada E formada com ardor Da alma da mais linda flor De mais ativo olor Que na vida é preferida pelo beija-flor Se Deus me fora tão clemente Aqui nesse ambiente de luz Formada numa tela deslumbrante e bela Teu coração junto ao meu lanceado Pregado e crucificado sobre a rósea cruz Do arfante peito seu
Tu és a forma ideal Estátua magistral oh alma perenal Do meu primeiro amor, sublime amor Tu és de Deus a soberana flor Tu és de Deus a criação Que em todo coração sepultas um amor O riso, a fé, a dor Em sândalos olentes cheios de sabor Em vozes tão dolentes como um sonho em flor És láctea estrela És mãe da realeza És tudo enfim que tem de belo Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouço confessar-te Eu hei de sempre amar-te Oh flor meu peito não resiste Oh meu Deus o quanto é triste A incerteza de um amor Que mais me faz penar em esperar Em conduzir-te um dia Ao pé do altar Jurar, aos pés do onipotente Em preces comoventes de dor E receber a unção da tua gratidão Depois de remir meus desejos Em nuvens de beijos Hei de envolver-te até meu padecer De todo fenecer!!!!!!!!